O Amor Mora ao Lado
A.L.Benner
©2003


Disclaimers:

Esta é minha fan fiction. A primeira que me aventurei timidamente a colocar “no papel”, (muito) depois de ser presenteada com a descoberta de Xena e Gab, e também de conhecer o mundo das talentosas bardas que celebram com perfeição o amor entre mulheres, no estilo alt/uber.
Portanto, é isso: considerem tudo que lerem de minha autoria como uma celebração a esse amor.
Gosto particularmente do estilo uber, por isso escrevi esta primeira fic nesse estilo. Mas para quem prefere as próprias Xena e Gabrielle em aventuras que vão muito além de uma grande amizade, tenho textos sobre este tema também, que estou revisando e serão publicados na medida do possível.
Uma pequena orientação aos leitores: esta é uma história pequena; curta, eu diria. E está ambientada na Austrália, país que admiro muito. Nada contra o Brasil; apenas achei que o ambiente “estrangeiro” se encaixava melhor ao que eu queria escrever. Escolhi Tonwood, uma cidadezinha do interior de Queensland (cuja capital é Brisbane), a mais ou menos 400 km a oeste de Cairns. Chillagoe é uma cidade próxima, um pouco maior. Se quiser se localizar, é só arranjar um mapa detalhado.
É claro que aqui cabe aquele aviso básico: se você é menor de dezoito anos, onde mora é proibida a leitura desse tipo de texto ou se o fato de conter cenas de sexo entre duas mulheres não lhe agrada, não o leia, pois a autora e a pessoa que mantém o site não se responsabilizam se você não cumprir essas determinações. Procure textos que se encaixem melhor ao seu caso.
Também é bom esclarecer que a autora, em momento algum pretende descumprir regras de copy right internacionais em relação às personagens citadas acima, conhecidíssimas em uma série de TV. Essas personagens pertencem à USA Studios/Renaissance Pictures. Já as personagens que aparecem no texto têm várias semelhanças com elas, ficando apenas nisso, pois são criação da autora do texto, que as detém sob regras de direitos autorais.
Se quiser me enviar sua opinião, críticas, sugestões para novas fics ou qualquer outro comentário, vou agradecer muito pelo feedback, afinal, só assim saberei se o que escrevo está agradando. Meu e-mail: thexbard@hotmail.com

Diane acordou assustada com o estrondo na garagem vizinha. Mesmo com a mente sonolenta, achou estranho aquele movimento todo num domingo de manhã e lembrou-se que a casa ao lado estava vazia há muito tempo. Sentou-se na cama para ver o relógio na cabeceira oposta e só então se deu conta que Jeff ressonava ao seu lado. Olhando para ele, lembrou do quanto andava frustrada com aquele relacionamento e deu um suspiro de resignação.

Jeff era seu namorado há mais de três anos, gostava dele e dormiam juntos todos os finais de semana, mas sempre que transavam, Diane sentia um vazio, parecendo que lhe faltava envolvimento, paixão mesmo. E ela sabia que não era culpa dele. Há muito que ela duvidava que o amasse verdadeiramente.

O relógio marcava 7:50 da manhã daquele domingo e uma voz feminina na casa ao lado chamou a atenção dela:

– Rapazes, tomem cuidado com essa mesa, certo?

A voz soou alta e grave, mas Diane não se deteve nisso, ficando irritada por ter sido acordada tão cedo no seu único dia de descanso.

“Alguém resolveu se mudar logo hoje e me acordar a essa hora”.– ela pensou, impaciente. E jogando sua parte do cobertor sobre Jeff, saiu da cama certa de que não dormiria mais. Sabia que ele não acordaria tão cedo, apesar do barulho, e resolveu que tomaria o café sozinha, como acontecia na maioria das vezes em que ele estava em sua casa. Jeff praticamente desmaiava depois de ficar satisfeito com aquelas sessões de sexo mal-feito e só acordava perto do meio-dia seguinte. Ela foi para o banheiro com o hobby no ombro, e sentiu o peso do dia que começava mal, reconhecendo que sua raiva não era só por causa do barulho da nova vizinha.

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O aroma do café fresco ficando pronto animou-a. O dia estava radiante e Diane não era uma mulher do tipo que se deixava desanimar facilmente. Pensou em cuidar um pouco do jardim; mexer em suas plantas ajudaria muito.

Ela já estava terminando o café quando outro barulho, agora de algo feito de ferro sendo arrastado sobre uma superfície de metal a fez arrepiar até a raiz dos cabelos. Tinha verdadeiro horror àquele tipo de ruído.

Sentindo o sangue ferver com a tremenda falta de educação àquela hora da manhã, enfiou a cabeça pela janela da cozinha e já ia dizer umas verdades para aquele pessoal, quando se deparou com sua nova vizinha.

A mulher estava parada perto do caminhão de mudanças estacionado ao lado da casa. Era bastante alta e as pernas longas estavam moldadas por uma calça jeans. O colo atraente e os ombros largos estavam à mostra por uma camiseta justa, branca e de alças. Os cabelos lisos e negros passavam bastante dos ombros e os olhos... eram de um azul incrível. Agitando os braços torneados, ela tentava orientar os carregadores de sua mudança, visivelmente inexperientes.

Diane inevitavelmente pensou no quanto ela era bonita, mas o barulho seco de algo caindo dentro do caminhão tirou-lhe a atenção.

– Ei! Vocês vão acabar com a minha estante! – a moça falou, já impaciente. E vendo Diane na janela, abriu-lhe um sorriso hesitante, cumprimentando-a:

– Bom dia! Espero não estar incomodando com o barulho. Acho que o pessoal que contratei é... sem muita tradição no mercado. – ela desculpou-se sem jeito; e indo até a janela, estendeu a mão para Diane, apresentando-se:

– Meu nome é Kathleen. Kathleen Ryan.

Diane também lhe estendeu a mão, esquecendo a irritação pelo barulho.

– Ah... eu sou Diane Markinson. – respondeu.

– Seremos vizinhas. Comprei esta casa e estou me instalando na cidade. Sou veterinária.

“Meu Deus! Ela é linda!” – Kathleen pensou, enquanto seus olhos gravavam cada detalhe daquele rosto emoldurado de louro.

– Então seja bem-vinda, Kathleen! – Diane falou, simpatizando imediatamente com ela. – Estamos mesmo precisando de uma veterinária na cidade.

– Obrigada. – ela respondeu, sorrindo e tentando não olhar muito para ela, com medo de que fosse percebida. – Bem, vou continuar com isso. Acho que vai me tomar o dia todo. Até mais.

– Até.

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Quando Kathleen se afastou, Diane voltou para dentro. O ronco de Jeff vindo do quarto a fez suspirar.

“Como eu suporto isso?” – perguntou-se; e tirando a mesa do café, foi até a garagem. Queria distrair-se. Sua pick-up precisava de um banho urgente, mas preferiu mexer no jardim enquanto o sol ainda estava fraco; depois lavaria o carro. Arrastando a caixa de jardinagem para fora, ela entreteve-se com suas plantas por algum tempo, ouvindo os barulhos constantes da mudança.

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Enquanto isso na casa ao lado, com as pernas bambas, Kathleen deixou-se cair no sofá que os carregadores tinham colocado num canto da sala. A visão de Diane a deixara completamente sem palavras e ela correra para dentro com a primeira desculpa que lhe veio à cabeça. “Aquela mulher é linda!” – pensou, ainda sem fôlego. “Os olhos, os cabelos... a mão delicada e macia! Não consigo acreditar que serei vizinha de um anjo como ela!”

Ela ficou um bom tempo deitada no sofá, reconhecendo que estava encantada e lembrando que poucas mulheres a fizeram estremecer daquela maneira; e nunca apenas em vê-las pela primeira vez. Já havia namorado mulheres lindas, mas Diane era absolutamente deslumbrante, e tinha algo especial nela; não poderia compara-la a ninguém que conhecera.

Mas Kathleen não queria encrenca. Havia se mudado de Brisbane justamente por querer tranqüilidade. “Ela deve ser casada ou ter namorado.” – pensou. “Numa cidade pequena como essa, duvido que não tenha. Ainda mais uma mulher maravilhosa como ela.” – Não, ela não é gay, Kathleen. E você terá de se contentar em ser apenas a vizinha dela. – murmurou para si própria.

Com esse pensamento, ela levantou-se e olhou para a sala que tinha para arrumar. Lembrou-se que agora estava vivendo numa cidade muito diferente e tentou afastar a imagem de Diane de sua cabeça. Precisava se dedicar à clínica que viera abrir; era nova na cidade, teria muito trabalho pela frente, e investir em alguém que nem era gay como ela não seria um bom negócio naquele momento.

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Perto das dez horas, Diane ouviu o caminhão arrancar e ir embora. Já tinha terminado com as plantas e precisava de outro banho. Lembrou-se da pick-up, mas a idéia de lavar um carro grande como aquele antes do almoço não a animou em nada. Ao entrar no quarto, viu Jeff mexer-se na cama. Ela não quis acordá-lo e tomou um banho rápido, indo de novo para a cozinha. Pela janela, viu o movimento de Kathleen através da janela dela, tentando arrastar uma estante sozinha.

“Aquela estante é pesada demais, mesmo para ela.” – Diane pensou. E sem pensar, foi até a casa.

– Ei, Kathleen? – chamou.

– Quem é? – a outra perguntou de dentro da casa.

– Sou eu, Diane. Posso entrar?

Sentindo o coração saltar, Kathleen ficou surpresa com a visita, mas ao mesmo tempo repreendeu-se intimamente por se sentir daquele jeito com uma mulher que mal conhecia. “Kathleen, vá com calma! Apaixonar-se agora vai ser um problema!” – pensou, sentindo o rosto ficar vermelho.

– Claro! Entre, Diane.

– Essa estante é muito grande para você arrastar sozinha. Quer ajuda? – Diane ofereceu, chegando na sala entulhada de móveis.

– Sem dúvida! Empurre desse lado aí. – ela respondeu, tentando disfarçar o quanto estava perturbada com a presença dela.

Empurrando juntas, colocaram a estante no lugar, e enquanto faziam isso, Kathleen não conseguiu deixar de reparar disfarçadamente em Diane. Ela não era muito alta, mas era magra e delicada, com os cabelos louros cortados de um jeito que ficava perfeito nela; e um corpo maravilhoso também; que Kathleen começou a desejar como nunca.

Podia sentir que estava se apaixonando; o que nunca lhe acontecera assim tão imediatamente ao conhecer alguém e que era totalmente o contrário do que tinha planejado. Ela repreendeu-se de novo, afinal conhecia Diane há apenas duas horas. Estava se sentindo ridícula como uma adolescente e desviou os olhos dela.

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Diane acabou ficando por ali e ajudou Kathleen a arrumar os outros móveis também. Quando viram já era quase meio dia.

– Está na hora do almoço, Kathleen. Você ainda tem muita coisa para arrumar, inclusive a cozinha. Venha almoçar na minha casa, assim pode continuar depois.

– Oh, não é necessário, Diane. – ela respondeu, encabulada com o convite. – Eu me viro por aqui mesmo.

– De jeito nenhum! Até você encontrar o que vai cozinhar já serão três da tarde. Venha. Num instante preparamos tudo.

Kathleen acabou cedendo. Não teria mesmo como cozinhar com tudo desarrumado e pedir alguma comida pronta numa cidade que conhecia pouco seria complicado. Ela seguiu Diane até a casa dela e começaram a preparar o almoço.

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Diane estava sentindo uma afinidade inédita com sua nova vizinha. Isso era raro nela. Geralmente era reservada com todo mundo que conhecia, mas com Kathleen estava sendo diferente.

Parecia que se conheciam há anos e já estava muito à vontade com ela. Kathleen lhe inspirava confiança, por algum motivo desconhecido. Parecia que era uma pessoa incapaz de mentir. E era detalhista, observadora e atenciosa. Percebeu isso em pequenos gestos dela, como quando perguntou se gostava de salsa para temperar as batatas e depois a viu colocando o tempero quando as preparou, meia hora depois. Essas eram três coisas que Diane valorizava muito nas pessoas que faziam parte da sua vida, mas que ultimamente só estava encontrando em amigos e agora em vizinhos.

Jeff estava longe de lhe oferecer qualquer uma dessas qualidades.

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Estavam conversando animadamente quando Kathleen ouviu um arrastar de chinelos. Olhando em direção ao ruído, viu um homem de uns trinta anos, com o rosto amassado pelo travesseiro e que precisava cuidar melhor da própria aparência, apesar de não ser propriamente feio.

– Ah, Kathleen, este é Jeff, meu namorado. Jeff, esta é Kathleen Ryan, minha nova vizinha.

Diane apresentou-o mais por obrigação, e sem saber por quê, estava desejando que ele só tivesse acordado no fim da tarde. Estranhamente, viu-se querendo que ficassem apenas ela e Kathleen para o almoço.

Kathleen mal conseguiu disfarçar a decepção. Suas suspeitas estavam certas: Diane tinha um namorado. Sentiu a frustração tomar conta dela enquanto apertava a mão dele.

– Olá, Jeff. Como vai?

“Deve ser um sujeito medíocre.” – ela deduziu – “Tem um aperto de mão sem firmeza.” – Seja bem-vinda, Kathleen. Vou bem, apenas com sono. – ele brincou; e sem beijar Diane, perguntou-lhe se tinha café.

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Kathleen notou que Diane não parecia mais tão à vontade quanto estava antes dele aparecer. Ela não fez questão alguma de demonstrar carinho com ele enquanto estava lá. Algo nela delatava uma certa impaciência com o namorado.

Ela pensou no que poderia ser. Eles não pareciam um casal apaixonado, e a cada minuto que ficava junto deles, tinha mais certeza de que Diane não estava feliz. E percebeu que Jeff também não era nada carinhoso. Nem delicado. Era um tipo bronco igual à maioria que circulava pelo interior da Austrália.

O que salvou o almoço foi a conversa animada que elas conseguiram continuar, apesar da presença quase muda do rapaz. Quando terminaram, ela ajudou Diane a lavar os pratos e prometeu retribuir o almoço quando estivesse devidamente instalada e voltou para sua arrumação.

Kathleen não queria, mas estava se encantando por Diane. Não queria, mas pegou-se várias vezes olhando para os pequenos pêlos louros da nuca dela; para o contorno perfeito dos lábios, pensando no quanto seria delicioso beija-los; para o verde brilhante daqueles olhos que a deixavam entorpecida.

O melhor que tinha a fazer era voltar para sua mudança, antes que um dos dois percebesse algo.

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No final da tarde, Kathleen viu Diane lavando sua pick-up. Apenas acenou para ela, pois viu Jeff do outro lado do carro e não estava com vontade de ficar perto dele. Adoraria ir até lá e ajuda-la, mas com aquele sujeito por perto, não dava.

Depois do jantar que ela preparou na cozinha já arrumada, sentou-se no sofá e tentou assistir um pouco de tv, mas tivera a péssima idéia de colocar o aparelho perto da janela e através dela via Diane de vez em quando. A bela imagem loura prendia-lhe a atenção mesmo quando não estava visível.

Kathleen não era uma mulher que se deixava levar por qualquer emoção e apaixonar-se, para ela, era algo sério. E a cada vez que Diane passava pela janela, ela sentia que sua vizinha estava exercendo uma influência bem maior sobre ela do que se permitiria normalmente ao conhecer alguém.

Enquanto subia para seu quarto, pegou-se desejando estar lá com ela. Ou poder convida-la para tomar um vinho, como desculpa para retribuir o almoço.

“Vá dormir, Kathleen!” – ela repreendeu-se. “Seus ataques adolescentes estão passando da conta! Amanhã sua nova vida começa e você não terá chance alguma com Diane.” Com esse pensamento ela apagou a luz, tentando inutilmente apagar também a imagem de Diane de seus pensamentos.

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No dia seguinte, ela levantou-se e não viu qualquer movimento na casa ao lado. Não sabia no que Diane trabalhava, mas devia ser algo que a fazia acordar bem cedo. Tomou um café reforçado como gostava de fazer e foi até a imobiliária que lhe vendera a casa e que também ficara de alugar um prédio para sua clínica.

O corretor levou-a até o centro da pequena Tonwood e pediu que ela parasse o carro ao lado de uma pick-up vermelha que ela reconheceu imediatamente como sendo a de Diane.

Todos na cidade pareciam ter pick-ups, e isso era explicado pela grande quantidade de fazendas de gado da região. Ela mesma tinha a sua por causa da clínica, já que não seria muito prático transportar cães e gatos num carro comum. Olhando para a de Diane, pensou onde ela estaria, ou se trabalharia por ali.

O rapaz a conduziu para o prédio ao lado de um supermercado; ou melhor, de um pequeno mercado, onde se lia o nome mais que apropriado: Little Market. Sua clínica seria vizinha de um mercado.

“Até que não será mal.” – pensou. – “Só espero que o dono não cause problemas.” Ela gostou imediatamente do lugar: tinha várias salas, com espaço para a sala de consultas, de vacinas, um escritório e mais no fundo do prédio, um lugar para a internação dos bichos.

– Gostei muito, Clark. Mas vou precisar fazer pequenas modificações lá no fundo, onde vou colocar a parte de internação e cirurgia. Tudo bem?

– Claro, Srta. Ryan. Vamos colocar tudo no contrato e não haverá problemas.

– E quanto ao dono desse mercado aqui do lado? Não vai criar problemas por causa dos meus bichos?

– A Srta. Markinson? Oh, não, ela não lhe causará problemas! Duvido que haja uma vizinha melhor do que ela!

“Tenho certeza de que não há!” – Kathleen concordou silenciosamente, pasma em saber que Diane era dona do mercado vizinho de sua futura clínica.

“Então é por isso que ela sai tão cedo! Um mercado precisa de frutas e legumes frescos que têm de ser abastecidos logo de manhã! E eu fazendo o maior barulho num domingo; justo o dia que ela tem para descansar.”

Depois de instrui-la a voltar na imobiliária para providenciar o contrato, Clark se despediu dizendo que visitaria um outro cliente ali perto. Kathleen ficou parada na calçada, pensando na coincidência de ser vizinha de Diane duas vezes. Fazia apenas um dia que a conhecera e sentia que já estava envolvida mais do que queria admitir.

Apaixonar-se assim, tão imediatamente, estava deixando-a completamente sem defesa. A pick-up ainda estava ali e isso significava que ela estava no mercado. E Kathleen sentiu vontade de vê-la. Não teria nada de mais ir até lá e contar que seriam vizinhas de novo. Era uma maneira de se aproximar, de poder ficar perto dela por uns minutos.

Entrou no pequeno estabelecimento e reconheceu imediatamente o mesmo toque de organização que viu na casa dela. Diane conseguia colocar um pouco de sua personalidade até mesmo nas prateleiras de seu mercado.

– Por favor, eu gostaria de falar com a Srta. Markinson. – Kathleen se dirigiu à moça que estava num dos caixas.

– Ela está no escritório. Pode ir até lá. A porta fica ao lado do balcão de frios. – a funcionária instruiu com gentileza.

– Obrigada.

Kathleen foi até onde ela indicou e bateu na porta, sem obter resposta. Um outro funcionário passou por ela e disse que poderia entrar. Ao abrir a porta, ela deparou-se com um pequeno corredor, onde divisórias formavam algumas salas. Uma delas tinha uma meia parede de vidro e pôde ver um rapaz do outro lado fazendo contas numa calculadora. Reconheceu algo nele imediatamente, além da grande semelhança com Diane: ele era gay, sem dúvida. E devia ser irmão de Diane, para ser tão parecido com ela. Não era afetado em absolutamente nada, mas Kathleen sabia reconhecer alguém como ela, fosse homem ou mulher.

Ele era tão bonito quanto Diane e sorriu para Kathleen, vindo até a porta para atende-la, mostrando que a simpatia era herdada na família.

– Posso ajuda-la? Quer falar com alguém?

– Sim, com a Srta. Markinson. Sou Kathleen Ryan. Acabei de me mudar para a casa ao lado da dela.

– Oh, muito prazer, Srta. Ryan. Sou Richard Markinson, irmão de Diane. – ele cumprimentou-a com um sorriso maior ainda, enquanto parecia tê-la reconhecido também.

– É, não há como disfarçar que vocês são irmãos. – Kathleen respondeu, apertando a mão dele. – E pode me chamar somente de Kathleen.

– Claro, claro! Venha, vou leva-la até a sala de Diane. Ela vai ficar contente em vê-la aqui no nosso mercado.

Ele a conduziu para uma das portas do pequeno corredor. Diane estava lá dentro, atrás de um computador para onde olhava através dos óculos que Kathleen não sabia que ela usava. Vê-la com eles na ponta do nariz só fez com que se encantasse mais ainda.

– Kathleen! Que surpresa! Como me descobriu aqui? – ela levantou-se, indo ao seu encontro e estranhamente se sentindo transtornada com aquela visita tão inesperada. Nunca sentira aquilo e achou mais estranho ainda quando percebeu suas mãos ficaram geladas de repente.

“O que está acontecendo comigo?” – perguntou-se enquanto tentava entender aquelas sensações desconhecidas.

– Por outra feliz coincidência. – Kathleen respondeu. – Seremos vizinhas duas vezes: acabei de alugar o prédio aqui ao lado para montar minha clínica.

– Oh, mas isso é ótimo! Sente-se. Richard, peça para Sara nos trazer um café, por favor. – ela pediu, aproveitando para desviar os olhos de sua visita.

– Já estou indo. – ele respondeu e fechou a porta atrás de si.

– Mas que bom, Kathleen. – ela falou, inexplicavelmente mais feliz por saber que ela seria sua vizinha de novo. - Espero que dê tudo certo com sua clínica. Como eu lhe disse, estávamos precisando de um veterinário. Não temos nenhum na cidade e quando precisávamos, tínhamos de ir até Chillagoe. E os fazendeiros tinham que buscar um por lá toda vez que algum animal precisasse de cuidados mais complexos.

– Isso foi uma das coisas que me fizeram vir para cá quando escolhi a cidade para morar. – Kathleen respondeu, tentando não fixar seu olhar naquele verde hipnotizante dos olhos à sua frente.

– Então você pesquisou vários lugares antes de se mudar?

– Sim. Eu sou de Brisbane. Trabalhava num hospital veterinário, mas achei melhor abrir minha própria clínica e uma cidade calma como essa é perfeita para isso.

A funcionária trouxe o café e elas conversaram por mais um tempo. Kathleen não tinha conseguido definir o motivo das mãos de Diane estarem geladas quando a cumprimentou, mas sabia que o motivo “das suas” estarem “congeladas” e seu coração parecendo que sairia do peito era a proximidade daquela mulher.

Kathleen tentou imaginar como se aproximaria dela. Diane não era gay. Alguma coisa no seu namoro estava errada, mas isso não significava que poderia se interessar por ela.

Conversaram mais um pouco e Kathleen se levantou dizendo que precisava ir até a imobiliária. E precisava mesmo. Mas precisava com mais urgência ainda sair dali, para Diane não perceber que não conseguia tirar os olhos dela.

“Droga, Kathleen! Você está apaixonada! Isso não podia acontecer.” – ela condenou-se, saindo para a rua depois de ter conhecido todo o mercado a convite de Diane. Entrou na pick-up e ficou um tempo sentada, tentando respirar normalmente de novo. Olhando pelo retrovisor, ainda pôde ver quando Diane recebeu uma entrega na porta do mercado. Estava linda, apesar de estar vestindo um jeans velho.

Ligando o carro, Kathleen foi para a imobiliária. Tinha de resolver sua vida, e ficar pensando em alguém inalcançável não adiantaria muito.

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Enquanto isso, de volta em sua sala, Diane tentava a todo custo entender o que se passara com ela quando Kathleen entrou e a cumprimentou. Ainda podia sentir a maciez da mão dela na sua. E a intensidade daqueles olhos azuis quando seus olhares se cruzaram durante a conversa. A cada vez que se lembrava deles, sentia um frio no estômago. E lhe parecia que Kathleen olhava-a de uma forma diferente.

Ela não era uma mulher ingênua a ponto de ignorar completamente o que aquilo estava significando. Estava em Tonwood, vivera a vida toda ali, mas tinha Richard. E quando na adolescência dele, tivera de entender que seu irmão era gay, que amaria outros homens durante a vida e não mulheres, foi que aprendera a dar importância ao amor que as pessoas poderiam oferecer e não ao tipo de sexo que faziam.

“Mas como pode ser isso? – perguntou-se. Kathleen é uma mulher lindíssima, mas... eu não sou gay! Aliás, nem ela deve ser!” E automaticamente pensou em Jeff e no quanto estava sentindo uma verdadeira repulsa por ele nos últimos tempos. “Não, isso não tem nada a ver. Só estou insatisfeita com a falta de atenção dele. Não estamos bem na cama, mas isso não significa que vou passar a desejar mulheres, ora essa!”

Rejeitando aquele pensamento, ela olhou para o recibo das dez caixas de legumes que acabara de receber e decidiu esquecer aquilo tudo. O trabalho ajudaria, como sempre acontecia.

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Os dias passaram e Kathleen ficou completamente envolvida na montagem de sua clínica, obrigando-se a pensar o menos possível em Diane. Mas o problema era que via-a várias vezes por dia, o que não ajudava muito em sua intenção.

Em poucas semanas a clínica ficou pronta e ela providenciou que as pessoas da cidade ficassem sabendo que agora tinham uma veterinária por ali e começou a trabalhar. Numa cidade pequena isso foi uma novidade e logo várias senhoras e seus respectivos “lulus” viraram seus clientes.

Os fazendeiros de gado da região também ficaram sabendo que não precisariam se deslocar quilômetros em busca de um veterinário e em uma semana ela já estava trazendo ao mundo alguns bezerros que se recusavam a nascer.

Diane a ajudou nisso de certa forma, pois todos a conheciam e ao saberem que a nova veterinária também era vizinha dela, pareceram confiar mais no seu trabalho. “Aquele comportamento típico de cidade pequena.” – Kathleen lembrava, divertindo-se quando alguém chegava perguntando se era ali que estava atendendo a nova veterinária, “vizinha de Diane Markinson”.

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Era uma sexta-feira e Kathleen preparou-se para ver novamente o carro de Jeff estacionar na casa ao lado e ficar todo o final de semana. Com a repetição daquela cena, ela teve de reconhecer que seu ciúme por Diane estar com Jeff a estava torturando mais do que conseguia evitar. E daquela vez decidira sair, pois não queria estar tão perto de Diane e inevitavelmente imaginar o que estaria acontecendo. Sabia que era uma fuga boba, mas decidira que seria assim.

Escolheu ir ao cinema e depois jantar qualquer coisa. Ainda não conhecia muita gente na cidade e não se importava em sair sozinha.

Já estava pronta, descendo as escadas para procurar as chaves da pick-up, e achou estranho não ter ouvido o carro chegar ainda. Ao sair, viu Diane andando no jardim. Tinha ido buscar a correspondência, pois estava com várias cartas e envelopes na mão.

Kathleen olhou para a garagem ainda aberta e o carro de Jeff não estava ali. “Talvez ele não venha hoje.” – ela pensou esperançosa, sentindo uma vontade imensa de convidar Diane para jantar.

Já tinha fechado a porta, sua roupa era do tipo que se usa para sair e estava chegando perto de Diane. Ela saberia que estava saindo e teria de dizer alguma coisa. Lembrou-se que prometera convida-la para jantar em retribuição ao almoço e arriscou:

– Oi, Diane.

– Oh, oi, Kathleen! – ela olhou-a surpresa, pois estava distraída com uma das cartas que tinha nas mãos.

– Estou indo ao cinema. Quer vir comigo?

Surpresa com o convite, Diane olhou-a por um instante, durante o qual Kathleen se arrependeu de ter falado, achando que ela não aceitaria.

– Ah... sim! Quero ir com você! – ela decidiu-se, determinada. – Você me espera trocar de roupa?

Sem disfarçar a alegria que sentiu, Kathleen só teve uma resposta: – Claro que espero!

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Kathleen esperou-a na sala enquanto se arrumava, tentando acalmar seu coração disparado. Já estava amando Diane; não podia mais negar, por mais que quisesse ou achasse coerente. Durante aquelas semanas todas tinha tentado afastar qualquer sentimento por ela, mas sabia que tinha apenas perdido tempo. Diane era encantadora demais, e todas as vezes que se encontraram só serviram para fazer Kathleen se apaixonar ainda mais.

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Em poucos minutos ela estava de volta; linda num vestido de um tecido leve, próprio para aqueles dias de verão.

– Bem, Srta. Markinson, estou convidando-a oficialmente para ir ao cinema e depois jantar comigo. - Kathleen falou em tom divertido, tentando disfarçar o quanto estava nervosa. - Estou lhe devendo isso desde o dia em que me recebeu em sua casa quando me mudei.

– Mas Kathleen...

– Oh, não! Não aceito recusas. E também ainda não comemorei a inauguração da minha clínica. Então podemos jantar pelos dois motivos.

– Está bem, então. – ela aceitou, sorrindo.

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Enquanto via Kathleen dirigindo até o centro da cidade, Diane sentiu de novo aquela sensação de bem-estar ao lado dela, como aconteceu nas várias vezes em que se encontraram durante aquelas últimas semanas. Toda vez que a via, sentia o alívio de quem esperava por alguém muito querido e que chegava depois de muito tempo ausente. Adorava quando Kathleen lhe sorria e seus olhos pareciam acaricia-la como um veludo macio. Depois do que sentira na visita que ela lhe fizera no mercado, sentia cada vez mais necessidade em vê-la ou falar com ela.

Sentia vagamente que aquilo tudo estava se transformando em atração, mas recusava-se a considerar essa possibilidade. Se fosse gay, tinha certeza que saberia lidar com isso como Richard soube, mas não sabia nada de Kathleen e preferia tê-la como amiga a não tê-la de nenhuma forma. Seu medo era por ela.

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Foram ao cinema, e Kathleen percebeu o olhar curioso das pessoas ao vê-las juntas. Ou melhor: ao ver Diane sem Jeff. Todos se conheciam em Tonwood e alguns chegaram a perguntar por ele, ao que ela limitou-se a responder que estava bem.

A vontade de Kathleen era perguntar também; saber porque ele não aparecera como fazia normalmente, mas achou melhor deixar que Diane comentasse naturalmente. Ainda não tinha tanta intimidade com ela a ponto de perguntar-lhe isso. Quando saíram, Kathleen deixou a escolha do restaurante para ela.

– Você gosta de massas? – Diane perguntou, antes de escolher o lugar onde iriam.

– De todos os tipos. – ela respondeu.

– Então vamos ao Guiuseppe. É o melhor lugar para se comer massas aqui em Tonwood.

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O restaurante era pequeno, sendo apenas um anexo de um grande bar, com mesas de bilhar e muito barulho, que uma porta estratégica ajudava a diminuir. Estava cheio, mas o dono logo conseguiu uma mesa para elas num canto discreto do salão. E quando Kathleen ouviu o jovem dono do restaurante dizendo a Diane que Richard estava chegando para jantarem, ela percebeu porque conseguiram uma mesa tão rápido. O rapaz devia ser o namorado do irmão dela, e Kathleen entendeu que eles eram amigos, o que era um bom sinal, pois demonstrava que pelo menos preconceito Diane não tinha.

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Elas conversaram animadamente durante o jantar. Diane estava rindo e se divertindo como há muito não acontecia. Só tinha bons momentos assim quando saiam somente ela e Richard para jantar.

Kathleen não conseguia ainda acreditar que estava ali, jantando com a mais linda mulher que já conhecera. Estava feliz e apaixonada; tinha de admitir. Diane a encantava; era doce e ao mesmo tempo forte, determinada. E Kathleen só queria perpetuar aquele momento tão precioso. Ela ia levantando sua taça para propor um brinde quando viu Jeff entrando no restaurante com mais dois rapazes e vir ao encontro da mesa delas.

– Estava bom demais para ser verdade! – ela murmurou para si mesma, não conseguindo segurar a frustração.

– O que? Desculpe, Kathleen, não entendi. – por sorte Diane não ouvira o murmúrio.

– Ahh, seu namorado... está chegando. – Kathleen respondeu, disfarçando.

– Não somos mais namorados... desde ontem – Diane respondeu rapidamente; e percebeu que fez isso porque não queria que Kathleen pensasse que ela ainda estava com Jeff. Surpresa com a declaração, Kathleen a muito custo conseguiu disfarçar sua satisfação, enquanto via Jeff passar pela mesa delas e apenas cumprimenta-las com um sorriso sem graça e ir para o outro lado, no bar.

– Ah, mas logo ele vem procura-la e vocês de entendem novamente. – disse, tentando ser natural.

“Afinal, uma “amiga” diria isso.” – pensou.

Com o olhar entristecido, Diane acabou confessando num impulso:

– Mesmo que ele venha, não vamos reatar. Eu não quero mais. Se eu o amasse, não estaria me sentido assim. Ontem eu apenas dei fim a uma situação que já estava insustentável há muito tempo. Não estávamos bem. Não é ele que eu quero. Quando percebeu, já tinha falado. Sentindo o rosto queimar, ela tentou explicar-se:

– Oh, Kathleen! Me esculpe! Eu não devia estar falando dessas coisas para você... Mas ao olhar para Kathleen, seus olhos se fixaram nos dela e aquele gelo no estômago invadiu-a novamente. Ela não disse nada, mas aquele azul era capaz de falar quase tudo. Falava de um sentimento completamente novo e que ela começava a descobrir naquele exato momento.

Diane sentiu o chão fugir de seus pés. Seus olhos estavam presos aos da mulher à sua frente. Ela não sabia o que dizer ou o que fazer e um arrepio de desejo percorreu seu íntimo quando sentiu a mão dela tocar a sua.

“Céus, o que está acontecendo comigo?” – pensou.

Incrédula com o que estava acontecendo, Kathleen só voltou a perceber o ambiente que as cercava apenas quando garçom passou por elas e perguntou se queriam mais alguma coisa. Instintivamente tinha colocado sua mão sobre a de Diane, e retirou-a num impulso.

– Não, obrigada. – ela respondeu, sentindo que ficava vermelha.

O garçom se afastou e quando Kathleen olhou novamente para Diane, sentiu o calor dos olhos dela sobre sua pele. Sem jeito, ela tentou desviar o olhar, mas conseguiu apenas mergulhar mais ainda naquele verde brilhante.

– Diane, desculpe, eu... – ela começou a dizer, mas foi interrompida.

Nesse instante Richard chegou na mesa e tirou-as daquele encantamento. Ele percebeu que tinha atrapalhado algo, mas preferiu fazer de conta que não tinha percebido nada de diferente em sua irmã e em sua acompanhante. Tinha notado que Kathleen era gay, mas não estava entendendo o que Diane estava fazendo ali com ela; sem Jeff. Não quis interpretar a situação antecipadamente, pois sabia que Diane lhe contaria tudo depois e pensou no que dizer para poder sair dali o quanto antes.

– Ora, que bom encontra-las aqui! Vim para jantar com Leo. Você o viu, Diane? – ele falou, enquanto cumprimentava Kathleen com um sorriso e arranjava uma desculpa para sair dali o mais rápido possível.

Constrangida com a chegada do irmão, ela olhou o salão à procura do rapaz; e com grande alívio encontrou-o atrás do caixa, para onde apontou, chamando a atenção de Richard.

– Ele está no caixa, querido.

– Então vou até lá. Terminem o jantar. Até mais.

Enquanto ele se afastava, viu que Jeff estava indo embora com seus amigos, saindo pelo outro lado do salão.

Ao olhar para Kathleen novamente, teve de admitir o que estava acontecendo. Via nos olhos dela. E sentia também; no nervosismo trêmulo de suas próprias mãos, no coração descontrolado que lhe saltava no peito.

Aprendera com Richard a não ter medo da homossexualidade. Ele sempre lhe dizia que não entendia porque as pessoas temiam isso como se fosse uma ameaça. E ela concordava com ele.

Lembrou-se que ele sempre brincava com ela dizendo que precisava se apaixonar por uma mulher. Richard fazia isso toda vez que desabafava com ele sobre Jeff e acabava fazendo-a rir com a idéia. Lembrou-se também que chegara a dizer a ele uma vez, que se um dia se descobrisse apaixonada por uma mulher, não entraria em parafuso e seria feliz de qualquer maneira.

Mas agora estava diante de uma mulher deslumbrante, que estava fazendo-a pensar em como seria beija-la e não sabia o que fazer. Nunca tinha pensado que a brincadeira do irmão pudesse virar realidade. Olhava para Kathleen e percebia que algo tinha mudado: não a via mais como uma mulher comum, sua amiga ou vizinha. Olhava para ela como sempre olhou para os homens, quando se sentia atraída por eles.

– Você quer ir para casa? – a voz de Kathleen a tirou daqueles pensamentos, pegando-a de surpresa.

– Sim, podemos ir. – foi o que ela conseguiu responder.

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No carro, Kathleen olhou para ela um pouco hesitante. Naquelas semanas que passaram depois que conhecera Diane, nunca vira nela qualquer sinal que pudesse faze-la acreditar que teria uma chance. Sabia reconhecer quando uma mulher a olhava com desejo; e estava vendo isso nos olhos de Diane pela primeira vez. Tinha muito medo de envolver-se e depois vê-la mudar de idéia. Esse era seu medo: envolver-se com uma mulher hetero que a queria apenas para uma aventura gay.

Mas Diane não lhe parecia mais hetero. Estava diferente. Depois do que aconteceu no restaurante, Kathleen conseguia ver nela um toque muito peculiar, impossível de se ver numa mulher heterossexual pelo simples fato dela ser desprovida dele. Percebeu então que não adiantava agir como se nada estivesse acontecendo. Eram adultas; e se acaso Diane lhe dissesse não, teria que lidar com isso e seguir sua vida. Pensando nisso, arriscou o convite:

– Diane, tenho um vinho em casa. Eu gostaria que você o tomasse comigo. O que acha?

– Acho que vou aceitar seu convite. – Diane respondeu com um sorriso tímido.

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Kathleen colocou a pick-up na garagem e entraram. Na cozinha, ela pegou um balde com gelo, o vinho e duas taças. Foi para a sala sentindo o coração descompassado e ao ver Diane parada diante da lareira, de costas para ela, a vontade que teve foi de largar aquela garrafa e abraça-la longamente.

Ela colocou a garrafa dentro do balde e mesmo com o barulho, Diane não se virou. Achando estranho, Kathleen aproximou-se e instintivamente tocou o ombro dela, vendo embevecida, a pele nua arrepiar-se sob sua mão.

Virando-se de repente, Diane ficou bem perto dela. Muito perto. O suficiente até para Kathleen sentir-lhe o calor do corpo.

Olhando-a nos olhos, Diane engoliu em seco. Queria beija-la. Queria muito beija-la. A proximidade dela estava mexendo com seus sentidos, que pareciam aguçados e em alerta. E ela não resistiu ao fato de estarem tão perto: olhando primeiro para os lábios de Kathleen já bem perto dos seus e depois para os olhos dela, Diane enlaçou-a pelo pescoço, entrando no abraço dela e entregando-se ao beijo que tanto desejava. – Kathleen...

Os braços de Kathleen a rodearam, trazendo-a para junto do seu corpo que já queimava de desejo. Suas bocas se encontraram com avidez, querendo compensar o desejo refreado.

As línguas se exploraram num beijo que acendeu nelas todo desejo imaginável. Diane colou-se naquele corpo esguio e sentiu o interior de suas pernas pulsar como há muito não sentia. Quando Kathleen a puxou para o sofá, beijando-a com um ardor desconhecido para ela, percebeu uma umidade intensa e quente deixa-la completamente molhada.

Sentindo o corpo dela sobre o seu, Diane não aguentou mais e pediu a ela o que mais queria naquele momento:

– Kathleen... eu a quero!

Olhando-a e sentindo o desejo latejar em seu íntimo, Kathleen pela primeira vez na vida, não sabia o que fazer. Ainda não conseguia acreditar que tinha Diane nos braços.

– Diane, eu... eu nem sei direito o que fazer! Estou pasma com o que está acontecendo!

– Você nunca... como eu... ?

– Não, não é isso, querida. – ela enterneceu-se com a ingenuidade de Diane. – Estou pasma por você... me querer! Por você me desejar! Eu queria muito, mas não acreditava que isso seria possível um dia.

– Por que eu tinha um namorado? Pois não se preocupe; acabei de descobrir porque não era feliz! – ela respondeu, com um sorriso nos lábios que fez Kathleen abandonar todas as suas incertezas.

Ela levantou Diane nos braços e carregou-a para seu quarto. O vinho ficou esquecido na mesa da sala.

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Elas despiram-se lentamente, beijando-se e enroscando-se; o desejo invadindo seus corpos, deixando-as enlouquecidas de paixão.

Diane deixou-se explorar pelas mãos experientes de Kathleen; e quando sentiu os dedos dela entrarem devagar em seu sexo molhado, mexendo lentamente, seu corpo retesou-se e ela naturalmente permitiu que Kathleen a penetrasse, sentindo os dedos dela deslizarem naquela umidade. Louca de desejo, ela agarrou-se a Kathleen, deixando seu corpo sentir todo prazer que aquelas mãos sabiam lhe dar.

Descendo a boca pelo pescoço macio, Kathleen foi deslizando os lábios lentamente até a curva perfeita dos seios e sentiu na língua os bicos endurecidos de desejo. Sentia o movimento dos quadris de Diane e percebia que ela queria mais. Aquele corpo sob o seu estava tomado do mais puro desejo. Descendo mais a boca, ela chegou aos primeiros pêlos alourados.

Quando com a língua, Kathleen percorreu devagar a virilha lisa, Diane sentiu seu íntimo se contrair involuntariamente.

Kathleen puxou-a mais para si e tomou-a na boca, enlouquecendo com o gosto dela. Diane estava completamente molhada e isso deixava-a entorpecida. Sua vontade era deliciar-se sem pressa, mas o desejo a levava a fazer o contrário. Sugando-a com uma avidez quase incontida, percebeu que Diane explodiria em sua boca a qualquer momento. Fazendo sua língua entrar nela, Kathleen sentiu o corpo dela entrar num espasmo e sugou-a com mais vontade, fazendo-a gozar enlouquecida, entre ondas contínuas de prazer.

Diane não podia acreditar: seu corpo estremecia, invadido por um prazer desconhecido que vinha da boca de Kathleen em seu sexo. Sentia a língua dela prolongando seu prazer e isso a deixava louca. Estava fazendo amor com uma mulher! Estava apaixonada e seu corpo mostrava isso naquele tremor contínuo que ela quis prolongar mergulhando os dedos nos cabelos de Kathleen e puxando-a mais ainda para seu íntimo.

Sentindo aquela onda de prazer prolongar-se no que parecia um tempo infinito, Diane deu-se a Kathleen por completo, deixando que ela a explorasse; que a boca dela a fizesse sentir-se no céu!

Subindo o corpo, Kathleen deitou-se sobre Diane, juntando as respirações alteradas em uma só e beijando-a com paixão. Ela ainda estava em fogo, enlaçando-se em Kathleen com os olhos faiscando de desejo.

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Olhando-a ainda cheia de desejo insaciado, Kathleen esperou que ela se acalmasse, e tomando-lhe a mão, delicadamente conduziu-a ao seu sexo encharcado, que Diane penetrou hesitante, mas com vontade. Seus corpo tremia levemente, tanto era o desejo que Diane despertava nela.

Sua vontade era que Diane a sugasse, mas os dedos dela, seguindo o ritmo de seus quadris e movendo-se cada vez mais rápido em sua carne excitada levou-a ao auge da excitação. Sentindo o tremor de prazer que se aproximava, Kathleen não conseguiu se conter por muito tempo. Olhando Diane com paixão, ela só conseguiu murmurar:

– Mais rápido, querida... eu vou... ohh, Diane!

Apertando-se contra a coxa dela, Kathleen sentiu aquela onda de prazer tirar-lhe o fôlego. Seu corpo inteiro encheu-se com um calor prolongado e intenso, até que ela não controlou mais os próprios músculos e caiu inerte sobre Diane.

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De olhos fechados e abraçada a Kathleen, Diane apenas permitia-se sentir o cheiro da pele dela. Aquela mulher lhe despertara todo o amor que sempre sonhara encontrar. Agora sabia o que era fazer amor com paixão e entregar-se completamente. Lembrou-se de Richard e da pequena previsão que ele formulou um dia, fazendo-a rir com a “impossibilidade”.

– Do que está rindo, amor? – Kathleen quis saber, ficando curiosa ao vê-la rir baixinho.

– De uma coisa que Richard me disse há muito tempo atrás e que eu jamais imaginava que virasse realidade. – Diane respondeu, levantando a cabeça e olhando-a com adoração.

– E o que foi que ele lhe disse?

– Que eu deveria me apaixonar por uma mulher. Que assim eu seria muito mais feliz do que namorando homens.

– E isso virou realidade? – Kathleen perguntou, ainda com uma ponta de receio.

– A mais doce realidade que eu poderia desejar! Você despertou em mim todo o amor que eu sempre quis ter, Kathleen. Eu achava que o que eu tinha era o máximo que me estava reservado; que não era possível ter mais. Mas você apareceu numa manhã de domingo e eu comecei a me apaixonar sem saber! Eu sempre ria quando Richard me falava isso, porque não me imaginava amando uma mulher.

Olhando-a, Kathleen não conseguia acreditar que além de tudo, Diane não estava com medo daqueles sentimentos. Qualquer mulher na situação dela estaria cheia de conflitos, mas ela estava apenas achando engraçado o fato do irmão ter previsto sua recente homossexualidade.

– Mas, Diane... eu sempre fui gay. A vida toda namorei mulheres, mas você não. E está apenas achando tudo isso engraçado?!

– Kathleen, Richard é gay. Perdemos nossos pais num acidente quando eu tinha dezoito anos e ele doze. A adolescência dele veio em seguida e com ela esse fato inegável. E nós somos de Tonwood! Aqui as pessoas sabem tudo sobre todos. Éramos apenas os dois, e eu era o único apoio dele. E ele me ensinou que ser gay não é defeito; não diminui ninguém. Sempre o admirei muito por isso. Aprendi que o preconceito é uma das maiores maldades que podemos fazer contra nosso semelhante. Nunca tive medo da homossexualidade. Só não pensava que eu também era assim.

Olhando-a cheia de amor, Kathleen não conseguia acreditar no que ouvia e apenas beijou-a. Tinha nos braços a mulher mais adorável que poderia existir. Esperava que depois de tudo ela entrasse em conflito e se passasse um bom tempo até que aceitasse sua nova condição, mas o que estava diante dela eram os olhos verdes mais apaixonados e sem qualquer medo que já vira.

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Sentindo a paixão tomar conta delas novamente, Kathleen beijou-a com mais intensidade, sentiu suas costas se arrepiarem enquanto as mãos de Diane deslizaram por elas e suas pernas se enroscavam de novo, fazendo seus sexos excitados se encontrarem num único calor molhado.

Diane sentiu seu desejo se reacender completamente. Kathleen tinha a capacidade de despertar-lhe tudo que nunca sentira antes apenas tocando sua pele. Queria aprender tudo; queria dar a ela o mesmo prazer que ela lhe dera. Ainda não conhecia o gosto de Kathleen, mas a vontade de toma-la em sua boca já afastava qualquer receio de não saber faze-lo. Da primeira vez tinha feito como Kathleen lhe mostrara que queria e agora sua vontade era de sentir os seios endurecidos em sua boca; explorar demoradamente aquele corpo feminino que agora era seu.

Descendo a boca ávida pelo corpo excitado de Kathleen, ela chegou ao triângulo escuro de pêlos macios e o perfume que veio deles a fez sentir uma dor leve entre as pernas, fazendo seu sexo contrair-se de desejo. E Kathleen deixou-se explorar, percebendo a vontade natural de Diane em conhecê-la pela primeira vez.

Passando a língua devagar por aquela maciez escura, Diane esperava apenas por um consentimento, ainda receosa por talvez não saber fazer. E ele veio, quando Kathleen abriu-lhe gentilmente as pernas, oferecendo seu sexo em fogo que ela tomou em sua boca com avidez.

Aquele gosto unicamente feminino invadiu-a, deixando-a enlouquecida enquanto explorava com desejo incontido aquela carne macia. Detendo-se no pequeno ponto excitado, sugou-o com vontade, percebendo Kathleen agarrando-se a ela com loucura, contraindo-se em sua boca, invadida por longas ondas de prazer.

Ela conduziu Kathleen a um orgasmo intenso, sentindo em sua boca o tremor forte que invadia o corpo de sua mulher e sugando avidamente todo aquele deleite.

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Mas antes que se desse conta, sentiu Kathleen rolando sobre ela e fazendo-a ficar embaixo do seu corpo ainda trêmulo, descendo a língua por seu abdômen reto e invadindo-a numa pressa cheia de desejo, explorando seu sexo e fazendo-a contorcer-se quando tomou-a na boca.

Ela apenas teve tempo de agarrar-se novamente aos cabelos escuros, sentindo a língua dela circundar com delicadeza cada centímetro do seu sexo. Diane queimava de desejo, trazendo a boca de Kathleen o quanto podia para si.

Quando sentiu a pressão dos lábios dela sugando-a com força, percebeu uma explosão descontrolar-se dentro de seu íntimo e entregou-se completamente, sentindo aquela onda invadi-la e deixa-la quase sem sentidos por alguns segundos.

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Abraçadas em silêncio, elas olhavam-se com amor. Sentiam seus corações deliciosamente invadidos por uma paixão intensa, que as levava muito além do simples desejo. Não era algo que passaria, ou que duraria pouco. Era algo que podia ser sentido, tocado. E se olhasse mais de perto, poderia até ser visto no brilho intenso daqueles olhares apaixonados.

Tinham descoberto um amor muito desejado, mas absolutamente inesperado. Descobriram que o amor estava bem perto, bem ao lado.

FIM*

*Por enquanto, considere que acabou mesmo; mas talvez esta história continue.